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Última actuação aconteceu no sábado em Heffingen


Teatro interactivo "Palcos" atingiu o seu público-alvo

"Conseguimos atingir o público que pretendíamos, os mais de 30 anos”, afirmam em uníssono Sónia Tomás, responsável pela Oficina de Teatro da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL), e Cláudia Pedroso, da associação de luta contra a sida, "Aidsberodung", da Cruz Vermelha luxemburguesa.

Esta a conclusão das duas responsáveis, no final da última actuação da representação teatral interactiva "Palcos", que decorreu no sábado em Heffingen, e que incluia três pequenas peças sobre as problemáticas da sida e da droga. O público era convidado a improvisar com um dos actores o final de cada peça.

A primeira peça, "Prova de amor", trata de um homossexual Miguel (Manuel Dias), que conta à amiga Teresa (Gracinda Dias), que tem o vírus da sida e tem medo de perdê-la, assim como o seu novo namorado, que o aceitou com a doença. Marlene, do público, assumiu o papel de Teresa e aceitou Miguel como ele é dizendo, "Seremos sempre amigos”. No fim da improvisação, Marlene explicou que, para si, "a sida é uma doença corrente e que todos nós nascemos contaminados por algo”.

A segunda peça, "Droga de vida", trata de duas amigas toxicodependentes, Luísa (Francisca Fortes) e Joana (Linda da Cruz), que partilham seringas. Joana fica a saber que tem sida e quando a amiga lhe pede uma seringa, uma pessoa do público foi chamada para propor um final. Ana Cláudia, do público, interpretou uma toxicodependente inconsciente, que dá a sua seringa usada a uma amiga. Cláudia Pedroso, da Cruz Vermelha, explicou que nem todos são inconscientes, também há toxicodependentes que nunca partilham seringas porque isso aumenta o risco de transmitir não só a sida como a Hepatite C. Angélica Vieira, também da Cruz Vermelha, explica que é muito difícil para os toxicodependentes sair da droga, sobretudo os dependentes de heroína. "Se a Joana, no dia a seguir, se arrependesse do que fez e contasse à amiga, a Luísa podia recorrer ao tratamento de urgência PEP”, explica Cláudia Pedroso. O tratamento de urgência pode ser feito até 72 horas depois da contaminação, mas não é eficaz a 100 % e tem muitos efeitos secundários. O tratamento medicamentoso vai impedir o vírus de entrar no corpo e reduzir o risco de contaminação.

A última peça, "Saída inoportuna", fala de José (José António Coimbra de Matos, presidente da CCPL), que tem 45 anos, é casado e tem duas filhas de 13 e 4 anos. José descobre que tem sida e conta à esposa, Mariana (São Alberto), que está grávida. Hilda, do público, foi chamada ao palco e decidiu interpretar uma personagem ambivalente. Primeiro, acusou o marido de ter uma amante, depois um amante. A conclusão de Hilda foi que as "mulheres podem ser tão culpadas como os homens”.

A última actuação em Heffingen foi a que reuniu mais espectadores, cerca de 130. Tinham sido 45 em Pétange, 50 em Merl e 80 em Diekirch, nas actuações anteriores.

"É difícil conseguir que os portugueses venham ver teatro. Mas conseguimos, graças ao envolvimento de responsáveis a nível local”, explica Sónia Tomás.

Por seu lado, Cláudia Pedroso adiantou que "a Aidsberodung faz intervenções nos liceus para informar os jovens sobre a sida, mas muitas vezes não consegue chegar aos mais de 30 anos, que não se identificam com a doença, mas, com a ajuda da CCPL, conseguiu-se chegar a esse público". Essa faixa etária esteve bem presente em Heffingen, mas foi também a que mais reticências mostrou em subir ao palco.

O CONTACTO falou ainda com alguns actores. Gracinda Silva diz que gostou muito de representar o papel de amiga de um seropositivo. "Aprendi muito com este papel e decidi tornar-me voluntária da Cruz Vermelha, para ajudar as pessoas que têm esta doença”, disse. Linda Cruz também se tornou voluntária e conta que "foi um papel triste a desempenhar e que é uma situação pela qual preferia que ninguém passasse”. Linda diz que vai continuar a lutar para informar as pessoas sobre a sida.

Tatiana Camacho, que interpretou o papel de médica, diz que fez as entrevistas com pessoas que têm sida, com a ajuda de Gina Lopes. "Tive um testemunho da grande frieza dos médicos quanto ao diagnóstico. Muitas pessoas não percebem as análises e eu quis mostrar isso através do meu desempenho”, diz Tatiana. "Penso que é algo de que toda a gente deve falar sem tabus e todos devem ser sensibilizados, mesmo os técnicos de saúde”, considera. Gina e Tatiana explicam que gostaram de recolher os testemunhos, "porque mesmo se muitas histórias são tristes e envolvem violência e desprendimento, também há histórias bonitas, e é muito bonito ver esperança na doença”.

"Mesmo se não seropositivo, quero ajudar as pessoas nesta situação, quando desempenho o meu papel. Pensei nos meus próximos, porque nunca se sabe o que nos espera amanhã. As pessoas que têm sida sentem-se rejeitadas e sozinhas, e muitas vezes entram em pânico”, explica por seu lado Manuel Dias.

O conselho no final da peça foi de não se ter relações sexuais desprotegidas, sem fazer primeiro um teste de HIV, e de nunca se discriminar ninguém.

No sábado, 1 de Dezembro, Dia Mundial de Luta Contra a Sida, é inaugurada uma exposição sobre a doença, às 17h, no complexo Utopolis (1° andar), em Kirchberg. Cristina Casimiro